Pejotização
A pejotização é um fenômeno que vem se intensificando no mercado de trabalho brasileiro, caracterizado pela contratação de trabalhadores como pessoas jurídicas, em vez de empregados sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Essa prática, muitas vezes usada para reduzir custos por parte das empresas, representa uma forma de precarização das relações laborais. Ao ser contratado como PJ, o trabalhador perde direitos fundamentais garantidos pela CLT, como férias remuneradas, 13º salário, FGTS, adicional de horas extras, licença maternidade ou paternidade, e estabilidade em casos de acidente ou doença. Na prática, ele assume obrigações tributárias e previdenciárias que deveriam ser responsabilidade do empregador.
Além da perda de benefícios, a pejotização dificulta significativamente o acesso à justiça trabalhista. Como o vínculo formal é substituído por um contrato entre empresas, o trabalhador precisa provar judicialmente que, apesar da formalidade, havia uma relação de emprego — com subordinação, habitualidade e pessoalidade. Esse processo é complexo e desgastante, exigindo tempo, recursos e coragem para enfrentar o contratante, especialmente quando há dependência financeira envolvida. A ausência de registro em carteira também impede o acesso a benefícios previdenciários e sociais, como aposentadoria por tempo de contribuição e auxílio-doença, tornando o trabalhador mais vulnerável em momentos de fragilidade.
Outro problema grave é a instabilidade econômica gerada por esse modelo. Sem garantias de continuidade do contrato, o trabalhador PJ vive sob constante insegurança, sem direito a aviso prévio ou indenização em caso de rescisão. A ausência de regulamentação sobre jornada de trabalho permite abusos, como exigência de disponibilidade integral, metas excessivas e ausência de pausas. Além disso, o trabalhador precisa arcar com custos operacionais, como equipamentos, transporte e até espaço físico, o que reduz significativamente sua renda líquida. A pejotização, portanto, transfere os riscos do negócio para o indivíduo, sem oferecer contrapartidas justas.
Por fim, a pejotização enfraquece a organização coletiva dos trabalhadores. Como pessoas jurídicas, esses profissionais não podem se sindicalizar da mesma forma que os celetistas, perdendo representatividade e poder de negociação. Isso compromete avanços históricos conquistados por meio da luta sindical, como reajustes salariais, melhores condições de trabalho e proteção contra demissões arbitrárias. Embora existam situações legítimas de prestação de serviços como PJ, o uso indiscriminado e fraudulento dessa prática representa uma ameaça à dignidade do trabalho e à justiça social, aprofundando desigualdades e fragilizando os direitos laborais no Brasil.